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15 março 2010

Senador Cristovam Buarque: alguém que ainda pensa na Educação Brasileira

 Assisti a esse pronunciamento do Senador  na TV Senado e, mesmo já tendo conhecimento sobre a existência dessa escola, fiquei maravilhada com o modo com que ele falou sobre ela. Bom seria, como ele mesmo disse, que os governantes parassem de pensar (se é que pensam!) em quanto gastariam para fazer mais dessas escolas pelo Brasil, e passassem a pensar em quanto estão perdendo ao não fazer tais escolas.
A maioria das escolas públicas do Brasil funcionam como num faz de conta: o professor finge que ensina, e o aluno finge que aprende. A escola atual é uma mentira. Uma lorota.
A escola do SESC sim, é real, completa e verdadeira. Essa pode levar o nome de Escola!



Artigo O Globo – Futuro Bonito
 


Por Cristovam Buarque

Foram poetas que disseram “o Haiti é aqui” para chamar atenção para a pobreza que existe em nosso País. Mas
aqui também há cenários de riqueza que nos permitem dizer “a Europa é aqui”. Na educação, temos escolas parecidas com as dos mais pobres países, e experiências que nos lembram os mais ricos.
É possível dizer que “a Finlândia é aqui”, e está no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, mais exatamente na Escola SESC de Ensino Médio. Cada vez que a visito, sinto-me como se estivesse fora do País. Mais do que horário integral, o regime é residencial. Os alunos moram no campus da escola. As aulas são das 8h às 12h, com intervalo às 10h para um lanche; o almoço – de ótima qualidade –, é das 12h às 13h; e entre 13h e 13h45, os estudantes se reúnem com seu orientador. Têm aulas das 13h45 às 17h, com intervalo de 20 minutos para um lanche. Das 17h às 20h30, fazem oficinas de idiomas, artes, esportes, debates sobre atualidade e jantar. Entre 20h30 e 22h, é tempo obrigatório de estudos: dever de casa, leitura livre, assistir ao noticiário com orientação do professor e outras
atividades; das 22h às 22h30, mais um lanche e às 22h30 as luzes são apagadas.

Os professores têm salário ao redor de R$ 9 mil e apartamento dentro do campus, para viver com a família. Mas exige-se deles dedicação exclusiva, integral e permanente aos alunos. A seleção é rigorosa, com base no currículo, na experiência e principalmente na manifestação de entusiasmo e envolvimento. São 80 professores para turmas de, no máximo, 15 alunos. Não é surpresa que alunos e professores constituam uma espécie de grande família envolvida com alegria, competência e rigor na educação de todos.
As avaliações são constantes e rigorosas por disciplina, por temas multidisciplinares, por apresentações orais e “pelo olho” – o sentimento do empenho e do potencial do aluno, avaliado por equipes de professores.

Dificilmente se encontram instalações melhores em outra escola gratuita. Em breve, a biblioteca terá 40 mil exemplares. Piscina, quadras, teatro, cinemateca compõem um conjunto arquitetônico bonito e confortável – com todos os equipamentos necessários para uma boa educação. O alojamento para cada três alunos é aconchegante, moderno e confortável.

Os alunos são escolhidos no Brasil inteiro, com vagas garantidas para todos os Estados e o DF, sendo 80% necessariamente de famílias com renda abaixo de cinco salários mínimos. Na escola, não há diferença entre esses e os outros 20% que possuem renda maior. Roupas, alojamentos, comida e aulas são iguais – tudo sem custo para o aluno e sua família. A escola elimina a desigualdade dentro de si e oferece as mesmas oportunidades, quebrando a desigualdade social de seus ex-alunos. Podem vir de classes sociais diferentes, mas têm agora e terão no futuro as mesmas oportunidades.

Ao longo de suas vidas, esses 500 meninos e meninas darão ao Brasil um retorno centenas de vezes maior do que o custo desses três anos de formação: todos bem formados, com um ofício e certamente caminhando para a aprovação no vestibular de uma boa universidade. Ou seja, o custo da formação é muito menor do que o de não fazê-la.
Além do mais, ninguém pergunta quanto custam Olimpíadas, Copa, hidroelétricas, portos, estradas. Mas informo que o SESC manifesta-se muito feliz com esse investimento, sabendo que mudará radical e definitivamente a vida desses jovens, e mudará um pouco o Brasil inteiro.

A Escola SESC mostra o que é uma revolução na educação brasileira e como é possível fazê-la, se pararmos de perguntar quanto ela vai custar e começarmos a perguntar quanto vem custando não fazer escolas como ela em todo o País.

Corcovado, Pão de Açúcar, Maracanã são pontos visíveis da beleza física do Rio de Janeiro. Mas Jacarepaguá, ao lado da Cidade de Deus, marca a paisagem do futuro que desejamos para todo o Brasil. Porque, se quisermos ver a cara do futuro de um país, basta olhar sua escola pública no presente. A Escola SESC mostra que, ao menos para 500 alunos, o futuro é bonito.
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Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF
Fonte: Artigo publicado no jornal O Globo de sábado, 13 de março.

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