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30 maio 2010

O Sexo e Violência sob o "olhar evolucionista".


Se ainda sobrou alguma coisa que você queria saber sobre sexo, mas não tinha coragem de perguntar, talvez a resposta dos evolucionistas sirva: ele é a forma que os genes arrumaram para melhorar as defesas da sua máquina de sobrevivência. Por exemplo: se você tem um sistema imunológico que não sabe se defender de algum vírus, e tudo o que você sabe fazer para se reproduzir são cópias de si mesmo, como aquelas primeiras células, seus rebentos vão ter esse problema. E o clã inteiro vai morrer no caso de um ataque.


Agora, se você combina seus genes com o de um ser imune ao tal vírus, a história é outra: teoricamente, só uma parte do clã morreria. E o resto continuaria passando seus genes adiante como se nada tivesse acontecido.   
  
Ao criar esse tipo inovador de reprodução, a seleção natural tratou de dividir o trabalho entre dois tipos de fun­cionários especializados. Um teria a função de tentar pôr seus genes em qualquer máquina de sobrevivência que cruzasse seu caminho. O outro selecionaria entre esses primeiros quais têm os melhores genes para compartilhar e cuidaria da cria que os dois tivessem juntos. Em outras palavras, o mundo se dividia entre machos e fêmeas (em algumas espécies, os papéis se invertem: os filhotes ficam a cargo dos machos, então eles é que são os mais paquerados).



Enfim, ao ganhar o poder de decidir quais machos terão filhos e quais ficarão na prateleira, as fêmeas assumiram o controle da evolução na maioria das espécies. E, para a psicologia evolutiva, é isso que determina aquilo que mais importa na vida: a propagação dos nossos genes, coisa também conhecida como vida afetiva e sexual.


O sexo, hoje, tem pouca relação com o ato de fazer filhos. Você sabe. Nenhum adolescente pensa em engravidar 10 meninas quando vai viajar para o Carnaval. Mas os genes dele não fazem idéia de que existem camisinhas e tudo o mais, então deixam o rapaz com vontade de transar com 10 garotas e pronto. Se tudo der certo, esses genes poderão instalar-se no útero de um monte de meninas e construir um monte de bebês (várias máquinas de sobrevivência novinhas em folha!).

Do ponto de vista das fêmeas a história é outra: transar com 10 sujeitos num feriado não vai “render” 10 filhos para os genes dela se instalarem. Vai dar é uma baita dor de cabeça. Os contraceptivos poderiam deixá-las livres para fazer sexo só pelo prazer com um monte de seres do sexo oposto, como qualquer homem faz (ou tenta fazer). Mas não. O cérebro delas evoluiu para selecionar os melhores parceiros, ter poucos (e bons) filhos, não para tentar a sorte com qualquer um. Sem falar que, do tempo dos nossos ancestrais caçadores-coletores até o século 20, sexo casual para elas era correr o risco de acabar com um bebê indesejado. Aí não tem ideologia liberal nem pílula que dê conta de superar esse “trauma” evolutivo.


Psicólogos da Universidade Stanford, nos EUA, checaram isso com uma experiência simples. Contrataram homens e mulheres atraentes para abordar estudantes e dizer: “Você gostaria de ir para a cama comigo hoje?” Nenhuma mulher aceitou. Já as garotas tiveram resultados melhores: 75% dos homens toparam no ato. Dos 25% restantes, a maioria pediu desculpas, explicando que tinha marcado de sair com a namorada. 



Pois é: do ponto de vista da seleção natural, uma bela fêmea disponível é um bem valioso demais para ser desperdiçado. Nenhum homem se surpreende com isso (o pessoal da obra não está só brincando quando diz “ô, lá em casa!”), mas para as mulheres a verdade da psicologia evolucionista pode soar assustadora: “O desejo de variedade sexual nos homens é insaciável. Quanto maior for o número de mulheres com quem um homem tiver relações, mais filhos ele terá [pelo menos é o que “pensam” os genes]. Então demais nunca é o bastante”, escreveu outro guru do neodarwinismo, o psicólogo Steven Pinker, da Universidade Harvard, nos EUA.


Esse apetite todo também ajuda a explicar as raízes de outro comportamento ancestral: a  violência. Os despojos de guerra mais comuns nos conflitos tribais sempre foram as mulheres. Não é à toa que uma das lendas sobre a fundação de Roma, que aconteceu no século 8 a.C., celebra o dia em que os primeiros romanos atacaram uma tribo vizinha, a dos sabinos, e raptaram as mulheres deles para começar sua civilização. Não dá para não dizer que deu certo.


E esse é o ponto: às vezes a violência é, sim, o melhor jeito de conseguir alguma coisa. Então não há mistério para a psicologia evolucionista: como a  violência funcionou ao longo da  história, está impregnada nos nossos genes. “Os bebês só não matam uns aos outros porque não lhes damos acesso a facas e revólveres”, disse o pediatra e psicólogo Richard Tremblay, da Universidade de Montreal, em uma entrevista à revista americana Science. A grande questão, ele completa, não é como as crianças aprendem a agredir, mas como elas aprendem a não fazer isso.


Intrigante, mas o psicólogo evolucionista Eduardo Ottoni, da USP, tem a resposta na ponta da língua: “A coisa mais complicada na vida de um primata é a capacidade de se virar em sociedades complexas. E se dar bem socialmente não é dar bifa em todo mundo”. Então nada melhor que um pouco de altruísmo com alguns para ficar bonito na foto. 



Os morcegos que o digam: entre as espécies que se alimentam de sangue, a vida não é fácil. Nem sempre dá para voltar pra caverna com o almoço na barriga. Mas os que conseguiram sangue durante o dia dão uma força aos malsucedidos, oferecendo a eles o sangue que sobrou na boca. Mas não tem conversa: quem não retribuir a oferta quando a situação for inversa fica com a reputação manchada e é banido do almoço grátis.

Mas em alguns casos somos altruístas sem querer nada em troca, nem inconscientemente. Isso acontece quando se trata das nossas famílias. E é aí que, para os neodarwinistas, fica mais clara a forma como os genes nos dominam.

[No próximo texto veremos como os genes "se  comportam" em família!!]

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