Quatro meses se passaram. Porém, as lembranças ainda estão muito vivas. ... E, apesar de todos esses dias, de todas as lutas travadas contra meu próprio ser, de todas as vezes que eu tentei não lembrar, ela, a dor, continua aqui. Pode nem aparentar tanto por causa desse meu-jeito-meio-otimista-e-alegre-de-ser. Mas, não. Ela não diminuiu.
Se eu não tenho o meu amor,
Eu tenho a minha dor
A sala, o quarto,
A casa está vazia,
A cozinha, o corredor.*
E tem mais: ela é sorrateira, impiedosa e instável. Chega sem aviso prévio, e de repente se instala. Embora eu já consiga manter um certo controle sobre isso, sinto que às vezes ela ainda tenta me derrubar. Percebo que ela me acompanha aonde quer que eu vá. E fica lá, só esperando uma oportunidade pra aparecer. E a melhor oportunidade que ela acha, são quando as lembranças mais fortes chegam [como hoje...]. E são muitas lembranças, muitas recordações. Não há como lembrar dele, e dor não sentir. Elas, as lembranças e a dor, andam juntas quase todo o tempo, por mais que eu tente evitar. Quando uma vem, a outra logo chega.

O tempo passou... Achei que quando isso acontecesse, algumas coisas ficariam menos doloridas. Mas a caixinha da memória também pode ser malvada. Ela relembra-me, a todo instante, momentos [juntos] que deixaram de existir, épocas específicas do ano que outrora não eram tão solitárias e tristes como são agora, beijos que se foram, cheiros e gostos de um ser que já não existe mais... É difícil lidar com tudo isso. Principalmente com a ideia de que "ele não existe mais".
Uma vida interrompida. Um amor inesquecível. Uma ausência que sufoca. Uma saudade que maltrata. E essa dor que não passa.
Sinceramente, às vezes eu [ainda] olho pra mim e pergunto: como você consegue ficar de pé, mesmo sabendo de tudo isso que te aconteceu? Como você consegue colocar esse sorriso no rosto, fazer piada, pensar em outras coisas e manter uma vida aparentemente normal, mesmo com essa dor tão horrível que ainda sufoca seu peito? Como você consegue dormir sem aqueles braços que te envolveram durante dois ininterruptos anos? Como você consegue acordar todas as manhãs e manter sua rotina diária normalmente, mesmo sentindo essa falta absurda de um alguém que fazia parte das 24h do seu dia?
Um ponto de interrogação bem grande se instala em minha face. Eu não sei como responder nada disso que me pergunto. Não sei mesmo. No entanto, eu sei que muitas pessoas que passaram pela mesma coisa, também conseguiram continuar suas vidas... Mas eu não achei que conseguiria. Nem nos meus pensamentos mais otimistas naquele 22 de março, eu me imaginaria do jeito que eu estou hoje: totalmente lúcida e com essa coragem toda pra tentar superar essa "paulada na cabeça" que a vida me deu.
Acredito que quem me vê por aí, acha até que já está tudo superado. Pensa que eu já o esqueci, que talvez eu nem o amasse tanto assim como eu sempre disse que amei, que eu escrevo essas coisas no blog só pra chamar atenção, pra provocar dó, ou coisa parecida. Sei que nem todos pensam assim, mas tem muita gente que só pelo olhar, eu percebo que tá pensando exatamente isso.
Mas não pensem que eu me importo. Não... Eu não me importo de jeito nenhum [até porque não faz diferença alguma na minha vida o que pensam ou o que deixam de pensar ao meu respeito]. E não me importo justamente por saber que talvez seja essa a impressão que eu mesma passe para as pessoas. Eu tenho consciência disso. E se passo essa impressão, é por acreditar que elas não têm obrigação de saber uma coisa que só pertence a mim.
Aos outros eu devolvo a dó
Eu tenho a minha dor*
Afinal, por que eu iria querer ficar demonstrando em todos os lugares que vou, essa dor avassaladora que ainda me consome? Seria irritante e desgastante demais. Por isso, guardo-a só pra mim e tento disfarçá-la (ou até mesmo sufocá-la) da maneira que me convém. Obviamente, uma hora eu não seguro; mas, geralmente, só quem vê é meu travesseiro... Penso que talvez eu disfarce tão bem, que em alguns momentos eu "engane" até a mim mesma. Dirá às pessoas...
Na verdade, o que realmente importa para mim, é saber o que ainda tem "aqui dentro". E aqui dentro ainda resta um coração machucado e dolorido. Por isso, procuro todas as formas possíveis de tratar e amenizar essa dor. Ora consigo. Ora não. No entanto, um dos momentos mais difíceis desse "tratamento" se dá quando eu tento achar um jeito de lidar com esse amor que ainda existe, mas que agora é impossível de ser vivido...